31/10/2008

Ingrata!

- O que é eterno, Yayá Lindinha?
- Ingrato! é o amor que te tenho.
(Eterno, Carlos Drummond de Andrade)

Em uma entrevista recente, o filósofo francês Luc Ferry discute a idéia de que hoje, mais do que nunca, a família é sagrada. Se existe ainda algo pelo qual as pessoas se dipõem ao sacrifício, isso é a família, são os filhos. Veja esta explicação:

"Praticamente todas as relações familiares da sociedade contemporânea têm origem no casamento por amor, que nasceu com o capitalismo. Antes disso, o casamento se destinava a atender a uma série de interesses. O sentimento era o que menos contava. Casava-se para dar continuidade à família, manter a linhagem e a propriedade. Com o capitalismo e tudo o que é derivado dele, como o salário e o mercado de trabalho, uma nova ordem se estabeleceu. As mulheres, antes confinadas em suas casas, foram para as cidades trabalhar na casa dos burgueses, como empregadas, ou se tornaram operárias nas fábricas. Essa mulher começou a ganhar o seu dinheiro – pouco, mas seu – e a conquistar a independência. Com isso, houve uma grande ruptura"

Ainda conheço mulheres que não trabalham, que fazem o prato do marido e que se sujeitam a sua autoridade. Mas isso é cada vez mais anacrônico. As relações afetivas hoje se estabelecem entre pares, entre iguais.

Para muitos homens isso não é fácil, pois não foram criados para dividirem o orçamento, os afazeres domésticos e as decisões conjugais. Some-se a isso a "diferença" natural entre os gêneros (minha esposa brinca que, enquanto o homem pensa que fez o máximo possível, a mulher acha que ele não fez ainda nem o mínimo necessário).

A música popular brasileira está cheia de exemplos desse desconforto masculino, muitas vezes expresso em termos da "ingratidão" feminina. De Wanderley Cardoso a Latino, a expectativa masculina não é o amor da companheira, mas sim sua gratidão. 


Em Alô Judite, Mussum troça da amada: "ao trocar seu Romeu para status ganhar, você perdeu". 

O genial Noriel Vilela canta a Maria que "hoje tá numa pinta que só ela tem, quando veio pra mim era Maria ninguém". 

Mas o mais amargo e direto é o mestre Lupicínio Rodrigues, aqui na voz de Jamelão, seu maior intérprete, e do auxílio luxuoso da Orquestra Tabajara: 

"em todo lugar
mulher sempre é mulher:
se pede uma flor
e a gente lhe dá
ela exige uma estrela
e se por acaso
ela não obtê-la
se vai com o primeiro
homem que lhe der"

Vai ser machista e rancoroso assim lá nos anos 40!



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22/10/2008

Rock Rural


Talvez não seja exagerado dizer que Sá, Rodrix e Guarabyra estejam para o rock rural brasileiro assim como Crosby, Stills & Nash para o country rock ianque. Ambos os trios são emblemáticos de um estilo que mistura elementos e temáticas do mundo rural a um ritmo essencialmente urbano. 
Essa seqüência se inicia com uma raridade: a banda Bango. Bango, --que é o nome de um tipo de marijuana que dá na África, é descendente da banda Os Canibais, que fez algum sucesso nos anos 60. O grupo gravou um único disco no início dos 70 e se desfez. O disco é bem variado e a influência dos Mutantes se evidencia na faixa escolhida, ao estilo da clássica 2001. Segundo o 1001 Record Collectors Dreams, um exemplar desse vinil pode valer até 1.000 euros.
Patife Band, outra banda que deixou poucos registros no final dos 80, também tem um trabalho que passeia por vários estilos. Na canção escolhida, o arranjo sertanejo contrasta com a letra punk e o sotaque paulistano.
E para fechar, um exemplo de como o estilo se renova, com a banda Supercordas. O cd Seres verdes ao redor é um disco conceitual -como se dizia em outros tempos, bastante coeso, com evidente influência do Radiohead, mas com personalidade própria.
Particularmente, eu gostaria também de uma casa no campo onde pudesse plantar meus amigos e livros... mas sem abrir de uma conexão banda larga, certo?


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21/10/2008

A importância do fone de ouvido

Trabalho em casa e quase o tempo todo na frente do computador. O fone de ouvido é meu companheiro inseparável e há muitas justificativas para isso: não consigo trabalhar sem música,  não quero incomodar os outros, preciso me isolar da rotina doméstica para conseguir produzir, a qualidade do som é melhor... Tenho percebido ultimamente que o tipo de música que ouço é muito particular e não agrada à maioria dos ouvidos. Então, coloco o headphone e mergulho no meu universo paralelo.  É curioso: não quero dividir meus achados com o vizinho, mas me disponho a publicá-los aqui, para o mundo todo... bem, pelo menos para quando esse blog tiver outros leitores, além dos amigos Ricardo e Guilherme
Em homenagem aos meus amigos presentes um post para ouvir sozinho, com o fone de ouvido, para ninguém pensar que fiquei maluco.


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09/10/2008

Originalidade... é isso aí?

Peço licença a Ayrton Mugnaini Jr. para copiar-lhe a idéia neste post sobre versões. O hit de Ray Charles Unchain my heart recebeu versões deliciosas de Roberto Carlos e Los Rogers. E Sunny, que já apresentamos aqui na versão de The Jones, também foi contemplada nessa inspirada interpretação de The Montesas. E assim, continuamos reafirmando a máxima de Lavoisier em tempos de internet: nada se acaba e nada se cria, tudo se copia...


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